Sentimentos opostos

Já escrevi sobre a paixão que o caminhoneiro tem por sua profissão. O cara ganha pouco, trabalha muito, passa a maior parte do tempo longe de sua casa (quando é estradeiro), acompanha o crescimento dos filhos pela internet, mas ainda assim não larga o volante.

Se já escrevi sobre isso, porque estou escrevendo de novo? É que nesta edição, fiz uma reportagem sobre como os caminhoneiros acompanham a educação dos filhos. E durante as entrevistas dois caminhoneiros, ao se referirem à profissão, abriram sorrisos lindos, largos, contagiantes. Os olhos brilharam como se eles fossem astronautas ou artistas de cinema.

Um deles disse não se ver fazendo outra coisa que não seja dirigindo um caminhão e abriu um largo sorriso de satisfação. O outro, mais comedido, disse que ser motorista é tudo de bom.

Mas o que tem de maravilhoso nessa profissão que vicia tanto? Liberdade, estar cada dia em um lugar, conhecer novas pessoas, saber que está ajudando na construção de um país. Cruzar o país, e às vezes as fronteiras, para levar o que as pessoas precisam.

Mas no meio de toda essa alegria e satisfação de ser caminhoneiro, uma pergunta muda o semblante dos dois: e se o seu filho quiser ser caminhoneiro?

Pronto! Acabaram os sorrisos, a festa e a alegria.

Não. Meu filho não vai ser caminhoneiro. Pode ser qualquer outra coisa, mas não caminhoneiro, disse um dos entrevistados.

O que pode parecer contradição, não querer que o filho siga a mesma profissão que faz os olhos brilharem, tem uma explicação.

Os dois caminhoneiros, por mais apaixonados que sejam pela profissão, sabem qual é a dura realidade do dia a dia, nas ruas, estradas e pátios.

A profissão está muito desvalorizada, explicou um deles. Antigamente, segundo ele, até se conseguia ganhar um dinheiro. Nos bons tempos, esses profissionais eram chamados de chofer.

A violência nas estradas, o armamento cada vez mais pesado e a crueldade dos bandidos, as estradas esburacadas, a falta de respeito nos pátios das empresas na hora de carga e descarga, fretes baixos que quase não cobrem os custos, jornada excessiva para compensar a baixa remuneração pelos fretes, são alguns dos problemas que os caminhoneiros enfrentam. Isso sem contar a falta de respeito da população em geral que se incomoda com o tamanho dos caminhões, esquecendo-se que são esses mesmos caminhões que levam tudo que elas precisam.

Talvez por isso, a maioria dos caminhoneiros prefere que seus filhos não sigam os seus passos. Não querem que eles sejam humilhados e passem necessidades. E diante desse quadro, uma pergunta que me surge: se não houver reposição dos caminhoneiros, se os jovens não forem estimulados a seguirem o exemplo de seus pais, quem irá transportar nossas mercadorias? Os advogados, médicos, jornalistas ou engenheiros?

Não. Aguentar o tranco atrás de um volante de caminhão, não é para qualquer um. Tem que ter vontade, força e muita paciência. Não é para qualquer um.

Mas fiquem tranquilos. Mais relaxados, depois de contarem os problemas do dia a dia, os caminhoneiros confessaram: eu não quero, mas se meu filho quiser ser caminhoneiro eu ficarei muito orgulhoso.

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