AS ESTRADAS ENSINAM

SEM CURSO DE ENGENHARIA, OU DE QUÍMICA, OS CAMINHONEIROS APRENDEM NO DIA A DIA, COMO PROLONGAR E DETERMINAR A VIDA ÚTIL DOS PNEUS, SEM CORREREM RISCOS DESNECESSÁRIOS.

Os pneus representam o terceiro custo no transporte. Por isso, prolongar sua vida útil, significa fazer uma boa economia. Mas quando tirar um pneu para recapar? Como escolher um pneu novo? Até quando usar um pneu? Aldo dos Santos, 38 anos de idade, 10 de caminhoneiro, procura manter seu Volkswagen 8-120, ano 2009, sempre “bem calçado”.

“Transporto eletroeletrônico de São Paulo para Curitiba”, conta ele. “Na hora da compra, vou pela qualidade. Pesquiso o preço entre as principais marcas do mercado. Quem estiver com um melhor preço eu compro”. Na hora da substituição, é o de costume: retira os pneus dianteiros quando atingem o ponto recomendado para recapagem, coloca os recapados na traseira e compra mais dois pneus novos para a dianteira. Santos aponta os buracos das ruas e estradas como os grandes inimigos dos pneus, além de pedaços de ferro. E para tentar extrair o máximo de desempenho, procura manter todos os pneus calibrados.

“Uso a tradicional batida apenas para ver se não está furado, mas calibragem é no calibrador e duas vezes por semana”. E como o seguro morreu de velho, Santos também toma suas precauções. “Como transporto produtos eletroeletrônicos, de alto valor, não arrisco ficar na estrada por causa de um pneu estourado. Só faço uma recapagem. Acho mais garantido”. Quem é consciente pensa em segurança.

Por isso Genário da Silva Lima, de 33 anos e 10 de caminhoneiro, só coloca em seu Mercedes-Benz 1620, ano 2000, pneus de marca conhecida e com boas experiências. “Se fosse comprar apenas pela qualidade, o melhor já tenho minha marca favorita”, diz sorrindo. Ele retira o pneu da dianteira, antes do limite para recapagem e coloca na tração. Da tração o pneu vai para a recapagem.

“Eu não rodo com ele na dianteira até o ponto de recapar, porque se chegar neste ponto, você está colocando sua vida e a do próximo em risco”, alerta Lima. “Quando o pneu desgasta até a metade da banda, eu tiro e coloco na tração, e quando atinge um terço do resto, eu tiro e faço a recapagem. Recapo o pneu duas vezes”. E a “manutenção” do pneu não é esquecida. Lima calibra sempre, para manter o pneu sempre na calibragem correta. Ele faz essa operação de duas a três vezes por semana. “Na maior parte das vezes, nem precisaria, mas faço por segurança”, diz.

Com seu Mercedes-Benz 1935, ano 1996, Rafael de Moraes, 30 anos e idade e oito de estrada transporta carga seca de São Paulo para onde for preciso. “Na dianteira e na tração só uso pneu novo”, explica Moraes. “Uso o pneu novo até ficar um terço da banda. Quando atinge essa marca, passo para a carreta, onde deixo acabar um pouco mais”. Moraes confia na garantia dos receptadores e faz duas racapagens em cada pneu. Mas, meio sem jeito e dando risada, confessa que usa os pneus da carreta até eles pedirem para serem trocados. Mas é um profissional cuidadoso. Mesmo tendo o rodoar, ele verifica periodicamente a pressão dos pneus, pois, caso o equipamento não esteja calibrado, pode prejudicar os pneus.

Outro cuidado que Moraes toma é mandar alinhar o caminhão para que os pneus tenham um desgaste uniforme. O fato de Ricardo Machado Bezerra, de 40 anos de idade e 20 de caminhoneiro transportar com seu Scania 142, 1987, móveis apenas em São Paulo e pelas cidades vizinhas, permite que ele utilize o preço como fator preponderante na escolha dos pneus.

“Não compro pneu muito barato, mas não dá para comprar o ‘top’ de mercado”, explica Bezerra. “Aproveito as promoções e sempre uso pneus iguais na dianteira, e na tração. Isso facilita na hora da recapagem. Eu uso o pneu novo até o limite que permita fazer uma recapagem para usá-lo na carreta”, explica Bezerra. “Mas eu tiro para recapar com um pouco menos de meia vida, assim eu preservo a carcaça”. Ele destina os pneus novos para a dianteira e tração, colocando os recapados na carreta. Isso para evitar um perigo ainda maior, caso um pneu colocado na dianteira venha a estourar. E, por precaução, só faz uma recapagem.

Bezerra explica que um dos fatores que danifica os pneus é o excesso de peso, depois as estradas esburacadas e por último, certas manobras em pátios com o piso irregular. “Tem alguns estacionamentos e locais onde precisamos manobrar que o piso é irregular e isso acaba danificando o ombro do pneu, que, em alguns casos pode chegar a se partir”.

Na batalha do dia a dia, com seu Mercedes-Benz 1313, ano 73, Valdemiro de Jesus, de 43 anos e 20 de caminhoneiro explica que a atual situação econômica não permite que os caminhoneiros comprem o produto que desejam. Compram o que “o bolso dá”. Assim, Valdemiro de Jesus, de 43 anos e 20 de caminhoneiro analisa os preços, mas sem deixar de lado a segurança do seu Mercedes-Benz, 1313, ano 73.

“Não gosto de andar com pneu ruim”, afirma ele. “Comprei mais dois novos para colocar, porque se você anda com pneu ruim, ele acaba te deixando na mão. Na hora que você não pode parar, é justamente quando eles dão problema”.

Para tentar extrair o máximo do pneu, Jesus procura mantê-los sempre calibrados. “Peço para calibrar porque batendo só se percebe se estiver furado”, explica ele, apontando os buracos das estradas, pedras soltas e o sol muito forte por longos períodos como os principais inimigos dos pneus. Ele respeita a natureza e quando retira os pneus da traseira, encaminha-os par um posto de reciclagem

Texto: Francisco Reis

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